Arnab Das e o futuro

Difícil fazer previsões acerca do futuro.

Uma das possibilidades é ouvir quem no passado já deu prova de ter esta capacidade, esperando que continue de maneira acertada.

Nouriel Roubini é uma destas pessoas e Arnab Das é o seu braço direito. A seguir a entrevista concedida no passado dia 2 ao diário italiano Il Giornale:

Arnab Das e o futuro

Dizes “Roubini” e todos levantam o chapéu: é o economista que previu com antecipação a grande crise financeira. Até poucos anos era considerado um excêntrico, hoje um guru. Fundou o Roubini Global Economics, chamando ao seu lado, em qualidade de Responsável pelas Pesquisas e Análises dos mercados, Arnab Das, um brilhante economista de origem indiana que ontem, em Milão, concedeu ao Giornale esta entrevista exclusiva.

Começamos com a Grécia e a crise de balanço. O Banco Central Europeu escolheu a linha dura. Um erro ou acertadamente?

Diria acertadamente. Hoje a Grécia não é o único país europeu com este tipo de problemas. Se fosse salvo pelo Bce ou recebesse financiamentos privilegiados europeus os outros diriam: porque Atenas sim e nós não? A Irlanda, por exemplo, já cortou em 20% as despesas públicas. Os gregos não têm escolha: têm que encontrar sozinhos, com grandes sacrifícios, a maneira para reduzir um deficit que saltou até o 12,5%.

É viável uma saída da zona euro?

A união monetária não contempla uma exit strategy. Se a Grécia tivesse que sair seria obrigada a redefinir a dívida da nova dracma, as taxas de juros saltariam enormemente. Enfim, o caos. E também um efeito domino: outros Países seriam postos sob a pressão dos mercados. O risco seria uma crise tipo Lehman. Mas a do euro na Grécia é só uma batalha, a guerra ainda não está vencida.

O que entende?

A história demonstra que nenhuma união monetária existe sem unidade politica e fiscal. Pode ser que o euro seja a excepção, mas só se os Países respeitarem Maastricht. Também a Califórnia entrou em bancarrota, e a Califórnia “pesa” muito mais que a Grécia, mas não é um Estado soberano e o governo federal pode ajuda-la com a transferência de fundos. A zona euro, pelo contrário, não tem esta flexibilidade. Assim a crise da Grécia realça os limites do euro.

Roubini adverte: cuidado com a crise da dívida pública europeia. Também da dívida italiana?

Não, a Italia tem uma dívida enorme há muito tempo mas agora o País é virtuoso. Nesta crise conseguiu manter os custos controlados e o deficit subiu muito menos do que em outros Países. Além disso a dívida das famílias é baixa e não houve a “bolha” dos mútuos. Os problemas estão em outros lugares.

E onde?

A dívida da França e da Alemanha cresceu muito, mas pode ser reabsorvida. Os Países em risco são Irlanda, Espanha e Portugal, além da Grécia, como é óbvio.

Em 2009 havia muito pessimismo, todavia os mercados das acções acabaram bem. E em 2010?

As margens para um novo crescimento hoje são reduzidas. Em 2009 as Bolsas subiram por causa dos planos de estímulo e dos cortes nos empregos. Os primeiros estão para acabar e os segundos não podem ser continuados até o infinito. Cortar empregos é lógico, mas não é possível fazer isso para sempre. E tem um custo muito elevado: quanto mais cortas, tanto mais prejudicas a economia real, afastando a retoma. Assim só o Produto Interno Bruto poderia sustentar os indicadores, mas na nossa óptica a retoma será anémica.

Quais as previsões?

Mais volatilidade com alto risco de correcções. No geral os mercados americanos deveriam progredir mais que os europeus e o dólar poderia reforçar-se mas só ao longo do primeiro trimestre. No segundo, pelo contrário, subirão os Países emergentes.

A China é um mistério: acredita no risco duma “bolha”?

Sim, o problema é que a China não pode arrefecer a economia. O seu modelo precisa de altas taxas de crescimento porque caso contrário emergiriam fortes problemas sociais, de desemprego, e em última análise de estabilidade politica. Assim tem que manter a moeda ligada ao dólar. Mas para continuar na defesa do câmbio tem que aumentar muito as reservas e desta forma alimenta a corrida imobiliária e da bolsa. Se não deixar flutuar a moeda o risco “bolha” aumentará. Cenário: indicadores ainda em alta, depois crash e deflação. Como no Japão dos anos oitenta.

Fonte: Il Giornale
Tradução: Massimo De Maria

One Reply to “Arnab Das e o futuro”

Obrigado por participar na discussão!

This site uses User Verification plugin to reduce spam. See how your comment data is processed.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.