Melhor uma moeda forte ou débil?

Moeda forte e moeda débil

Usualmente a maior parte das pessoas que vivem numa nação ficam felizes quando a moeda deles fica mais forte e ficam tristes quando esta enfraquece.

A questão é meramente emotiva: estamos felizes quando somos fortes e as nossas coisas são “fortes” também, ficamos deprimidos quando estamos débeis e as nossas coisas são “débeis” também.

Mas a realidade é um pouco diferente.
Se não vejamos:

O que significa “moeda forte”?

Vamos simplificar: imaginemos um mundo onde existem só dois estados com duas moedas: o Euro (EUR) e o Dólar do Resto do Mundo (RMD).

Existe neste mundo uma taxa de câmbio, entre EUR e RMD, e flutua com base no andamento do mercado.

A sua flutuação é determinada por variáveis que determinam as taxas de câmbio, escolhas dos bancos centrais incluídos.Mesmo assim, podemos afirmar que ao longo prazo quanto mais a economia europeia é sólida, estável e segura tanto mais o EUR fica apreciado (isso é, fica “mais forte”) no que diz respeito ao RDM.

Vamos supor que no começo do ano o relacionamento entre as duas moedas seja de 1:1. Isso significa que com 1 EUR podemos comprar 1 RMD. E vice versa, óbvio.

Com o passar dos meses a economia europeia chega a melhorar enquanto no resto do mundo abranda e cresce o desemprego. O mercado dos câmbios reflecte este fenómeno e, após um ano, a taxa de câmbio entre EUR e RMD passa a ser 1:2; isso é, com 1 EUR compram-se 2 RMD, enquanto são precisos 2 RMD para adquirir 1 EUR.

Agora o EUR é mais forte.

Os cidadãos deveriam ficar felizes. Mas é mesmo assim?

As consequências da moeda forte

Para os cidadãos as coisas são mais interessantes.

Quem viaja para o estrangeiro tem a sensação de estar muito rico pois a sua moeda vale o dobro da moeda do resto do mundo e porque as coisas no resto do mundo custam a metade (o que é a mesma coisa).

Da mesma forma, tudo o que é importado para a Europa e é produzido fora da Europa é extremamente conveniente para os europeus.

Uma Coca Cola produzida no Resto do Mundo há um ano custava como na Europa:
1 lata = 1 RMD = 1 EUR.
Após um ano, com o câmbio 1:2 as coisas estão assim: 1 lata = 1 RMD = 0,5 EUR.
Um desconto de 50%! E a mesma coisa passa-se com os carros, as matérias primas,…

Só vantagens?

Não…

Pensem nas empresas que produzem na Europa e exportam para o Resto do Mundo.

Para estas o efeito é exactamente o oposto: de repente os produtos delas custam o dobro no mercado do Resto do Mundo!

Enfrentam assim uma crise sem antecedentes, com os consumidores do Resto do Mundo sem dinheiro para adquirir os produtos da Europa. Por isso menor produção, menor lucro, menos lugares de trabalho, empresas que fecham.

As consequências da moeda débil

Agora apaguem tudo e começamos outra vez. Prontos?

Bem, imaginem o mundo dantes, com só duas moedas. E imaginemos que após um ano aconteça o contrário do que foi dito. Agora a taxa de câmbio é 2:1, isso é, 2 EUR = 1 RMD. Agora são precisos 2 EUR para poder adquirir 1 RMD.

Com a moeda débil as consequências parecem ser dramáticas para os consumidores e para as empresas:
tudo o que é importado custa o dobro! Agora são precisos 2 EUR para comprar 1 lata de Coca Cola. Carros, sapatos, matérias primas, tudo o que é produzido no Resto do Mundo custa o dobro.

Imaginem o preço da gasolina e de todos os bens relacionados com o petróleo: os preços sobem (também o custo dos transportes, por exemplo) e temos inflação.

Só desvantagens?
Não.

Pensem nas empresas que exportam.

Para elas o efeito é o contrário: os produtos são mais convenientes quando vendidos nos mercados estrangeiros e as encomendas não faltam, bem pelo contrário. Estas empresas vivem um boom de exportações e prosperam criando crescimento económico e emprego. 

Um fluxo constante de dinheiro entras nas caixas europeias e trata-se de dinheiro com valor (vale o dobro!).

Também no interior da zona EUR a situação não é assim dramática: é verdade que os sapatos que antes eram importados a partir do estrangeiro agora não vendem mas pode ser que alguém, na Europa, comece a produzir sapatos inteiramente “Made in Europe”, feitos a partir de matérias primas locais. O que significaria outros empregos e remuneração para os produtores europeus…

Uma situação, esta, não proteccionista mas sem dúvida útil ao mercado interno.

Melhor moeda forte ou moeda débil?

Depende.

Como vimos, ambas as situações apresentam prós e contras.

Num país muito importador e pouco exportador, com escassez de matérias primas, poderia ser mais vantajoso apostar numa moeda forte.

Num país muito exportador e pouco importador, com muitas matérias primas, seria preferível uma moeda débil.

Portugal, por exemplo, é um país que exporta produtos de qualidade e importa muitas matérias primas. A escolha não é fácil, mas com uma moeda fraca seriam provavelmente mais as vantagens que as desvantagens.
Pena que o banco central que pode intervir no valor da moeda portuguesa já não é o Banco de Portugal mas a BCE, o Banco Central Europeu, cujos interesses não são necessariamente os mesmos do país…

Diferentes os casos de países como o Brasil ou Angola que ainda não abdicaram da soberania monetária: nestes países, ricos em matérias primas, uma moeda fraca ajuda as exportações enquanto as importações ficam penalizadas. Mas, como vimos, esta situação pode levar ao aparecimento de produtores locais, com recaídas positivas na economia do país.

Ipse dixit.

Texto de Informazione Scorretta, Felice Capretta,
e Massimo De Maria
Tradução Massimo De Maria

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