GEAB 42 – Parte I: Intensificação da crise na segunda metade de 2010

É disponível o GEAB 42.

(Se não sabem o que é o GEAB ou Europe2020 é favor clicar aqui!)

GEAB 42 – Segunda metade de 2010: repentina intensificação da crise sistémica global – 5 trends negativos fundamentais. 

Europe2020 julga que o efeito dos bilhões gastos pelos Estados para “contrastar a crise” será uma total inutilidade.

Estes montantes tiveram o efeito de abrandar a evolução da crise sistémica global ao longo de diversos meses, mas esta estratégia serviu só para arrastar os Estados numa crise causada pelas instituições financeiras.  

Por isso o grupo antecipa, neste número 42 do GEAB, uma repentina intensificação da crise ao longo da segunda metade de 2010, provocada pelo duplo efeito de um regresso de eventos que foram temporariamente “congelados” na segunda metade de 2009 e da impossibilidade de manter os remédios paliativos dos anos passados.
De facto, em Fevereiro de 2010, um ano após as nossas afirmações segundo as quais o fim de 2009 teria marcado o inicio da fase de disecção geopolítica global, todos podem ver que este processo se encontra bem consolidado: Estados à beira de falências, implacável subida do desemprego, milhões de pessoas no fim dos subsídios de segurança social, queda dos salários, limitação dos serviços públicos e desintegração do sistema de governo global (cimeira de Copenhagen, fricção EE.UU/China, regresso do risco de conflito entre Irão/Israel/EE.UU, as guerras em todo o mundo…).
Todavia, estamos só no princípio desta fase para a qual Europe 2020 fornecerá uma provável previsão temporal no próximo GEAB.

  • a explosão da bolha dos deficit públicos e uma correspondente subida das faltas de pagamentos dos Estados
  • o impacto fatal do sistema banqueiro ocidental com os crescentes default sobra as dívidas e a muralha das dívidas cujos prazos estão por caducar.
  • a inevitável subida das taxas de juros.
  • o aumento das questões que alimentam as tensões internacionais
  • uma insegurança social crescente

Neste número do GEAB, o nosso team escolheu concentrar-se sobre as três primeiras tendências, entre as quais uma antecipação acerca da posição da Rússia com respeito à crise, assim como as nossas sugestões mensais.

Nesta introdução, escolhemos analisar o “caso grego”, porque parece sintomático do que o 2010 apresentará e porque é o exemplo perfeito da maneira como as noticias e as informações acerca da crise mundial estão a mexer-se em direcção às “noticias falsas” entre os blocos e os interesses estão cada vez mais em conflito. 

Obviamente é um “must” aprender a decifrar as noticias e as informações a nível mundial nos meses e nos anos próximos, pois estarão cada vez mais sujeitas à manipulação.
Da mesma forma em que os quartéis gerais dos exércitos derrotados escrevem comunicados que descrevem as próprias derrotas como “retiradas em posições predeterminadas” ou anunciam pequenos sucessos tácticos para esconder derrotas estratégicas, os governos e as instituições financeiras alimentam os média com noticias e informações num estilo análogo acerca de como estão “enfrentando a crise”.

Não são catastróficos os resultados financeiros de 2009 para as empresas?

Mas esta é a “descoberta da água quente”! Como todos podem ouvir ou ver cada dia, jornalistas ou especialistas explicam que poderia ter sido pior (que, obviamente, é uma maneira para ser satisfeitos de forma fácil) e/ou que nas últimas semanas existem sinais promissores.
Além disso, os média confiam em informações cada vez mais suspeitas: os chefes das empresas envolvidas foram incapazes de fazer uma qualquer previsão para 2010, mas têm a sensação que as coisas estão a melhorar (o responsável sabe/sente que o sucesso está perto, mesmo sem provas na mão…).

Um em cada 3 dólares é tomado em empréstimo para pagar só os interesses da dívida publica dos EE.UU.
Fonte: Wegelin Bank / IMF, 01/2010
No que concerne aos Estados, a propaganda monopoliza todas as declarações oficiais

Assim, na mesma altura em que autoriza uma subida histórica do tecto da dívida americana (um aumento de 1900 bilhões de USD aos 14300 bilhões de USD), Barack Obama afirma a própria firme intenção de reduzir a dependência americana da dívida.

A mesma coisa acontece em França, onde Nicolas Sarkosy “prevê” a queda do desemprego francês enquanto os sindicatos e as partes sociais tentam encontrar uma maneira para gerir o milhão de franceses que deixarão de receber os subsídios sociais ao longo de 2010 por causa de falta de emprego. 

O Reino Unido não fica muito longe: cúmplices as eleições do próximo Maio, o orçamento previsto não encara o problema da dívida “ao estilo grego”, enquanto os média ingleses apontam os problemas do Euro como causa da crise grega. E a esterlina conseguiu perder valor perante o Euro até na semana passada…

Para acabar esta rápida panorâmica, falamos da China que, com o suporte do coro dos média internacionais, surpreende com extraordinários dados de crescimento de 2009, enquanto Pequim está desesperadamente a tentar controlar uma enorme bolha de crédito que criou para alimentar, de forma improdutiva, uma economia chinesa que produz mas não consegue vender.

Esta tendência em manipular as informações económicas e financeiras, que sempre existiu, foi alvo de uma aceleração nos últimos tempos por causa da crise: o 2010 e os anos seguintes ficarão caracterizados pelos choques cada vez mais violentos entre os actores económicos e os deficit deles. Não podemos esquecer que o deficit da Eurozona representa “só” o 6,7% do PIL e a dívida o 88% do Produto Nacional Bruto, enquanto os dados comparados dos EE.UU. são respectivamente o 10,7% e o 92%.

Os americanos pouparam quase nada no último decénio. Não é difícil observar quem tem problemas em financiar a própria dívida.

Variação da percentagem da nova dívida pública adquirida pela China, novos empréstimos do governo americano, percentagem das reservas existentes de títulos de crédito EE.UU. na posse da China (2002-2009) 
Fonte: Tesouro EE.UU., Haver Analytics, New York Times

As cinco características que compõem o “caso grego”

Antes de entrar nos pormenores do “caso grego”, existem cinco pontos chave da nossa antecipação acerca do assunto.
• 1. Tal como afirmamos nas nossas antecipações para o 2010 (GEAB nº 41, de próxima publicação em Informação Incorrecta, NDT), o problema grego teria desaparecido dos radares dos média internacionais no prazo de algumas semanas. É a árvore utilizada para esconder uma floresta de dívidas muito mais perigosa (para ser mais claros, as dívidas de Washington e Londres) e o começo duma nova queda da economia mundial, queda conduzida pelos EE.UU.
• 2. O problema grego é uma questão interna da zona euro e a UE e a situação actual implica a ocasião única para os leaders da zona euro pedirem à Grécia (um caso de” fracassada ampliação” de 1982)  de abandonar a sua politica e o seu sistema económico feudal. Os outros Países da UE, com a Alemanha em primeiro lugar, adoptarão as medidas necessárias para manter os actuais leaders gregos no poder em troca das ajudas e para testar os mecanismos de estabilização que a zona euro precisa em tempos de crise..
• 3. Os leaders anglo-saxónicos e os média utilizam a situação actual para esconder a progressão catastrófica das próprias economias e das dívidas públicas, e na tentativa de enfraquecer a atracção da zona euro numa altura em que EE.UU e Reino Unido têm bastantes dificuldades em atrair os capitais que desesperadamente precisam. Ao mesmo tempo, Washington e Londres seriam felizes de ver o Fundo Monetário Internacional, que eles controlam na totalidade, leva-los para a gestão da zona euro
• 4. Os leaders da zona euro ficam felizes ao ver a queda do Euro para 1,35 contra o Dólar. Sabem que não pode durar, porque o problema actual é a diminuição do valor do dólar e da esterlina, mas por enquanto trata-se de um bocado de oxigénio para as exportações.
• 5. Os especuladores (hedge funds e outros) e os bancos envolvidos com a Grécia têm o interesse comum em encontrar um apoio financeiro da zona euro para a Grécia pois as agências de rating podem baixar a avaliação acerca de Atenas e, se os europeus não querem gastar, podem encontrar-se numa pequena economia de graves perdas financeiras, empréstimos de baixo valor… 
Papel da Goldman Sachs na tragédia grega…e os próximos default soberanos
Na “tragédia grega”, como em cada história de suspense, é preciso um “mau da fita” (ou “deus ex machina”).
Nesta fase de crise sistémica global, o papel de mau da fita é desenvolvido por um dos bancos de grandes investimentos de Wall Street, Goldman Sachs.
O banco de investimentos de New York está directamente envolvido nos truques contabilísticos que permitiram à Grécia de qualificar-se para a entrada no Euro, enquanto o efectivo deficit o teria proibido.
Na verdade é Goldman Sachs que, em 2002, criou um dos seus brilhantes esquemas financeiros (acerca do qual detém o segredo) que voltou à superfície alguns anos mais tarde para fazer “saltar” o cliente.
Mas entretanto os lucros da GS (Goldman Sachs) forma beneficiados.
No caso grego, a intenção do banco de investimentos era simples: recolher um empréstimo que não comparecesse no orçamento (um contracto de swap) e que permitisse uma (fictícia) redução do deficit público
O leader grego da altura era, obviamente, 100% responsável e se calhar deveria ser submetido a julgamento politico e legal, grego e europeu, tendo burlado a UE e os cidadãos gregos na altura dum evento histórico com o foi a criação da moeda única europeia. Mas, verdade seja dita, a responsabilidade do banco de investimentos de New York é igualmente grande.

A zona euro deveria pedir ao governo grego para interromper a utilização dos serviços GS que, segundo o Financial Times do dia 28 de Janeiro de 2010, ainda utiliza.

Se o chefe da GS acha ser “Deus”, como declarado numa recente entrevista, poderia ser considerado o facto que o seu banco pode ter uma atitude diabólica e tirar as consequências.

Esta sugestão, segundo o nosso team, vale para a Europa toda e não só. Existem “serviços privados” que chocam com o interesse público: é suficiente perguntar aos cidadãos gregos ou aos americanos cujas casas são agora na posse dos bancos! 
O nosso grupo sugere um “jogo” para convencer os que ainda perguntam onde irá aparecer a próxima dívida soberana: é suficiente olhar para os Estados que nos últimos anos adquiriram serviços da GS, a Goldman Sachs…
No próximo post a segunda parte do GEAB nº 42

Texto de Informazione Scorretta, Felice Capretta,
e Massimo De Maria

Tradução Massimo De Maria

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